Os Contos de Manfer
A ESPERTEZA DO RÉU
Quando
era pequeno e ainda se vivia à luz da candeia de azeite no topo da chaminé, não
havia ainda rádio ou televisão, ao serão ouvia muitas lendas e velhas histórias
contadas quase sempre pela minha avó.
A
única distracção que havia era uma grafonola muito antiga que para tocar se
rodava uma manivela e saiam músicas muito antigas.
As
lendas da minha avó era quase sempre o assunto das grandes noites de inverno
com toda a gente sentada ao pé da lareira antiga, onde ardiam os bons cepos de
lenha que cortada durante a primavera e seca e guardada no fim do verão.
A
casa da minha avó era muito antiga e não havia água canalizada mas sim os
cântaros de barro cozido pelo oleiro ou umas bilhas de folha de zinco feitas
pelo latoeiro. A lareira era ampla mas só o chão dela era revestido com lajes
de pedra. O resto do chão era feito com barro amaçado com palha de trigo e
depois era muito bem batido até ficar lizo e rijo.
Mas,
hoje, vou contar a lenda da esperteza do acusado inocente, que era um pobre
homem muito religioso que foi acusado injustamente de ter assassinado uma
mulher que tinha aparecido morta.
O
verdadeiro assassino era um barão do reino que para se encobrir do seu
repudiante acto espalhou traiçoeiramente um boato incriminando o pobre
inocente, que foi prezo e estava sujeito a morrer na forca, porque não tinha
testemunhas para se defender. As testemunhas do barão tinham sido compradas por
bom dinheiro para jurarem falso e assim o encobrir.
O
pobre do réu não tinha nenhuma chance a seu favor a não ser que houvesse um
milagre para provar a sua inocência.
O
pobre homem foi ouvido pelo juiz e sempre disse que estava inocente.
Mas,
o juiz como ele não apresentou testemunhas, tinha que o levar a julgamento e
condená-lo.
Havia
quem pensasse que o juiz suspeitava da tramóia que havia contra o pobre homem e
que o barão seu amigo é que teria todas as culpas.
No
dia do julgamento o juiz disse ao réu que queria fazer-lhe um julgamento justo
porque era um homem de grande religiosidade e que iria colocar a sorte do réu
nas mãos de Deus nosso Senhor, para que o acusado provasse a sua inocência.
E
disse o juiz: Nestes dois pedaços de papel vos escrever num a palavra: INOCENTE
e no outro: CULPADO, o senhor vai escolher um deles quando eu lhe disser.
O
veredicto da sentença será dado pelo que estiver escrito no papel que o Senhor
escolher e decidir o seu destino.
Mas,
sem que o réu se apercebesse, o juiz escreveu CULPADO em ambos os papéis, para
que o acusado não tivesse nenhuma salvação e fosse condenado a morrer na forca.
O
juiz colocou os papéis à frente do réu e mandou escolher um.
O
homem hesitou mas agarrou um papel que meteu logo na boca e engoliu.
O
juiz surpreso e indignado gritou: “Mas o que é que você fez?” “E agora como é
que vou saber qual é o veredicto?”
-“É
muito fácil!”: respondeu o réu: “Basta ver o que está escrito nesse papel e
saberá o que estava no papal que eu engoli”!
O
juiz imediatamente o julgou “INOCENTE” e o libertou.
MORAL
DA LENDA:
Por
muito difícil que seja a situação deve-se sempre ter esperança e cabeça fresca
para resolver os problemas e as artimanhas que nos surgem na vida.
Neste
caso a esperteza do réu salvou-lhe a vida.
Manfer
®
Torres
Novas, 6/06/2015
Foto:
Net
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