- Relicário dos Prazeres
- Autor: Manuel Mar.
- O Par Ideal!
- A história da minha vida,
- Até me parece misteriosa,
- Porque é simples e florida,
- Não pintada ou colorida,
- E é linda como uma rosa.
- Par ideal foram meus pais,
- Gente muito provinciana,
- Simples com grandes ideais,
- Com muitos dons naturais,
- Muito educada e humana.
- O pai foi um trabalhador,
- Que sabia de vários ofícios,
- Era um pequeno agricultor,
- E que cultivava com amor,
- Afastando pecados e vícios.
- A mãe era domestica leal,
- Cheia de grandes virtudes,
- Lutava pelo seu bom ideal,
- Defendendo o valor moral,
- Das suas honradas atitudes.
- Educaram seus nove filhos,
- Com sacrifício e muito amor,
- E sempre dentro dos trilhos,
- Sem desavenças ou sarilhos,
- Todos estudaram com rigor.
- Não havia rádio e televisão,
- Mas meus pais sabiam cantar,
- E cantavam ao fazer o serão,
- Peneirando a farinha do pão,
- Para depois se poder amassar.
- Estudámos à luz do candeeiro,
- Enquanto vivemos na aldeia,
- Era sempre pouco o dinheiro,
- Dava jeito fazer o mealheiro,
- Para servir como pé-de-meia.
- Dois filhos foram professores,
- Um tradutor, dois electricistas,
- Dois fizeram cursos superiores,
- Duas tiveram públicos labores,
- E hoje já são todos pensionistas.
- Conto esta história bem singela,
- Para honrar os meus bons pais,
- Se eu fosse pintor faria um tela,
- A mais maravilhosa aguarela
- Não quero esquece-los jamais.
- Torres Novas, 14/04/2016
quarta-feira, 13 de abril de 2016
O PAR IDEAL
PÁGINA INICIAL - HISTÓRIAS - FOTOS - POESIA - VÍDEOS..
A DERRADEIRA JORNADA
- Relicário da Nostalgia
- Autor: Manuel Mar.
- A Derradeira Jornada!
- Foi durante a Segunda Guerra,
- Havia fome lá na minha terra,
- A gente andava desesperada,
- E por causa do racionamento,
- Havia dor e muito sofrimento,
- Toda a gente vivia revoltada,
- E ninguém podia sequer falar,
- Havia bufos sempre a escutar,
- Às ordens da União Nacional,
- Se refilava ia à cadeia parar,
- Todo o povo vivia muito mal,
- Mas tinha que sofrer e calar.
- Eu era ainda menino e moço,
- Quando comecei na jornada,
- Pouco fazia ou mesmo nada,
- Já antes do pequeno-almoço,
- Bem cedo ainda madrugada,
- Eu fazia enorme caminhada,
- Para ir buscar água ao poço,
- E seguia para as filas do pão,
- Acompanhando a minha avó,
- E não se comprava pão-de-ló,
- Ali só havia um pão de rolão,
- Não se podia fazer mais nada.
- E depois do pequeno-almoço,
- Antes do Sol estar a queimar,
- Tocava burro à volta do poço,
- Para tirar água para se regar,
- Tudo o qua havia lá na horta.
- Encaminhava água minha tia,
- A minha avó sentada à porta,
- Que ela trabalhar não podia,
- Com a idade ficou bem torta,
- Mas ainda vivia com alegria,
- Gostava de dar a sua risota,
- Até que chegou o último dia.
- Quando minha avó faleceu,
- Quem mais perdeu fui só eu,
- Pois eu muito dela gostava,
- Sua morte eu não esperava,
- Foi para mim um triste dia,
- De a ver morrer em agonia.
- Tinha então meus sete anos,
- Cheios de vida sem enganos,
- Senti a sua partida ser cruel,
- Não queria saborear esse fel,
- Mas acabei por compreender,
- Quem nasce terá que morrer.
- Torres Novas, 13/04/2016
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ALDEIA ABENÇOADA
- Relicário dos Prazeres
- Autor: Manuel Mar.
- Aldeia abençoada!
- Do meu tempo de juventude,
- Guardo gratas recordações,
- Daquilo que vivi sem atitude,
- Ainda andava com os calções,
- Das pessoas de muita virtude,
- Que me davam bons sermões,
- Demonstrando em amplitude,
- Para não restarem as ilusões,
- Deste mundo que tanto ilude,
- Praticando tantas más acções.
- Gostava de fazer malandrices,
- Quando surgia a oportunidade,
- Inventava sempre as aldrabices,
- Como se fossem pura verdade,
- Era tempo de tantas crendices,
- Esse belo tempo da mocidade,
- Porque faziam muitas tolices,
- E às vezes de grande maldade,
- Mas foram tempos bem felizes,
- Onde se fazia muita amizade.
- Vivi numa aldeia abençoada,
- Repleta de amor e de carinho,
- Tod’a gente era até educada,
- E vivia bem com o seu vizinho,
- O campo era cavado à enxada,
- E amanhado bem devagarinho,
- Toda a casa que era abastada,
- Limpava sempre o caminho,
- A gente pobre era ajudada,
- Cada casa parecia um ninho.
- Torres Novas, 13/04/2016
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