sábado, 16 de julho de 2016

O BRUCHO DO CASTELO DOS MOUROS

















              

Os Contos de Manuel Mar.

O BRUXO DO CASTELO DOS MOUROS

Há muitos séculos no castelo dos mouros, segundo reza a lenda, habitava um mouro que se fez bruxo e juntou uma grande fortuna em dinheiro, ouro e jóias preciosas, com as bruxarias que fazia nos fundos do castelo.
A dada altura um exército cristão ajudado pelos cruzados, veio ajustar contas com os mouros para recuperar o seu antigo castelo.
O bruxo mouro como era um grande adivinho já tinha escondido o seu tesouro junto de uma velha fonte nos arredores do castelo.
Quando o bruxo estava a esconder o seu grande tesouro, foi surpreendido por uma linda moura que era costume ir beber água na fonte. O bruxo pensou logo em enfeitiça-la com a sua magia para que ela não desse com a língua nos dentes e divulgasse o segredo.
E como que celebrando um velho ritual disse:
— Em cobra ficarás encantada, e para sempre ficarás com a boca calada!
A linda moura transformou-se numa cobra rastejando e vivendo junto da fonte.
Os cristãos tomaram o castelo de assalto, matando uns e expulsando outros, mas o bruxo nunca mais apareceu por aquelas bandas.
Diz-se que, em noites de S. João, alguém viu junto ao castelo uma bela moura a dançar ao luar, e quando um rapaz a convidou para dançar com ele, ela não lhe respondeu e desapareceu.
Sobre as pedras da fonte alguém encontrou uma pele de cobra recentemente despida, e diz-se que ela continua a viver como cobra na velha fonte, mas o tesouro do bruxo nunca foi encontrado.

Manuel Mar.
®
Torres Novas, 27/05/2015
Foto: Net

O BRAÇO ESFORÇADO

























O Diário dos Contos de Manuel Mar.

O BRAÇO ESFORÇADO

A implantação de República Portuguesa, em 1910, trouxe profundas e cruéis mudanças que muito afectaram o viver das gentes do nosso povo.
A expulsão dos jesuítas teve consequências muito nocivas, basta lembrar que todo o ensino em Portugal estava na mão deles e, ao confiscarem-lhe todos os bens nada o país lucrou e o pior foi conduzir as finanças públicas à penúria pois toda a economia se arruinou. Muitas casas comerciais e financeiras faliram e, o próprio estado ficou sem nada no tesouro e cheio de grandes dívidas.

Se a vida nas cidades era uma verdadeira miséria e havia roubos de noite e de dia mesmo com portas trancadas às sete chaves, a vida no campo também não era boa, mas sempre havia alguma ajuda entre os vizinhos.

Nas aldeias, cheias de gente nova e trabalhadora, produzia-se tudo o que era possível para vender nas vilas e nas cidades para matar a fome a todos mas, mesmo assim, ainda havia falta de tudo.

Pode-se dizer, em abono da verdade, que foi o braço esforçado do povo que venceu, com grandes sacrifícios, essa grande crise e, apesar de ter sido agravada pelo rebentar da 1ª Grande Guerra Mundial de 1914 a 1918.

Foram anos de dificuldades e privações até ao Estado Novo e à Constituição de 1933 altura em que começaram a resultar as medidas impostas por Salazar que, conduziram à recuperação da
Economia e finanças de Portugal, e que foram progressivamente melhorando até ao 25 de Abril.

A chamada revolução dos cravos feita em nome da salvação do povo, se trouxe algumas melhorias foi sol de pouca dura, porque decorridos dois anos estavam esvaziados os cofres do estado e, temos andado de crise em crise e, adeus mundo, na realidade, não existe nenhuma garantia de e que o nosso futuro será melhor.

O que se sente é que a luta política se tornou num luxo de disputa
desenfreada  de tudo o que são lugares do poder da nação e que toda a governação do estado português consome o que o país não consegue produzir.

Assim compete ao povo acabar com todos os luxos do governo, da assembleia da república, e de todos os departamentos do estado, fazendo com que a lei seja igual para todos.
É preciso moralizar as hierarquias e introduzir uma escala com sete degraus e que cubra todas as categorias de trabalhadores universalmente com base no mérito de cada um e não nos lobbies que se tem criado por todo o lado.

Todos os privilégios que se foram criando para os servidores do estado não tem nenhuma razão de existir: ou serão extensivos para todos os trabalhadores; ou terão de acabar.

Os escalões de vencimentos seriam assim:
525€ para ordenado mínimo e 3.675€ para ordenado máximo.
725 €  “                                       5.075€  “

Se continuar como está não pode conduzir a um bom destino na minha opinião.
  
Manuel Mar.
®
Torres Novas,25/03/2015
Foto: Net

UM AMOR FATAL

























Foto antiga da rua da capela dos Soudos - Torres Novas



Conto de Manuel Mar

O AMOR FATAL

Com a implantação de República Portuguesa, em 1910, houve profundas e também cruéis mudanças políticas que, muito afectaram o viver do nosso povo.
A expulsão dos jesuítas teve consequências muito nocivas, basta lembrar que todo o ensino em Portugal estava na mão dos deles e, ao confiscaram todos os seus bens nada o país lucrou e conduziu as finanças públicas à penúria pois toda a economia se arruinou.
Muitas casas comerciais e financeiras faliram e, o próprio estado ficou sem nada no tesouro.
Os jesuítas possuíam grandes riquezas que ao serem-lhes onfiscadas levaram ao despedimento de uma multidão de toda a classe de obreiros que, de um dia para o outro perderam o seu modo de vida.
Por esse motivo, um tio da minha mãe, irmão da minha avó, que era empregado dos jesuítas no seminário de Santarém, e tinha uma boa vida, teve que regressar à aldeia e teve grandes problemas na sua vida.
Se por um lado, há muitos que tinha deixado o cultivo das suas terras e, teve muita dificuldade em recomeçar uma vida de agricultor, por outro lado surgiram-lhe, também, problemas com a sua namorada de há vários anos porque ela acabou o namoro por não querer deixar a cidade e ir viver no campo.
O pobre do homem fez tudo para a reconquistar mas apesar dos seus esforçou ela foi irredutível e ele com essa mágoa começou a definhar e adoeceu.

A sua doença foi depois diagnosticada como sendo uma terrível tuberculose, e ele seguiu para um sanatório na Serra da Estrela, e passado pouco tempo depois faleceu.

Os seus bens que tinham sido herdados do pai que tinha falecido muito novo, voltaram para a minha bisavó a Dona Vitoriana e, mais tarde foram herdados pela minha avó e as suas sete irmãs.
A minha avó passados uns anos faleceu em 1961 e os bens foram distribuídos pelos seus quatro filhos.
Mais tarde em 1963 eu fui viver na antiga casa da minha avó e, ainda hoje detenho alguns objectos que pertenceram ao meu tio-avô, que tinha sido vitimado pela maldita tuberculose, em consequência de uma grande paixão, que para ele foi o amor fatal.

Manuel Mar
®
Torres Novas, 31/05/2015

Foto: Net

A TIA ANA DOS OVOS































Capela dos Soudos junto à qual a tia Ana vendia os tremoços

Os Contos de Manfer

A TIA ANA DOS OVOS

A tia Ana dos Ovos, era irmã do meu avô paterno, que morava nos Matinhos, na aldeia de Soudos, freguesia de Paialvo do concelho de Tomar.
Quando a conheci a tia Ana já ela era muito velhinha.
O meu avô Manuel Ferreira já tinha falecido quando eu Nasci. 
Eles viviam da agricultura e da venda de produtos da sua produção, tal como uma boa parte dos moradores da aldeia, mas a tia Ana dos Ovos era muito popular porque passava os dias a vender ovos e tremoços por todas as aldeias limítrofes e vivia à sua maneira, que eu achava muito estranha.

Ela tinha três filhos e o mais velho tinha-se estabelecido no ramo dos vinhos, tendo ela e marido sido seus fiadores.
Mas ao tempo havia a crise da 2ª Grande Guerra, e o negócio correu tão mal que tiveram que vender as propriedades para pagarem essa divida.
Passado algum tempo o marido dela que já não podia trabalhar e que passava os dias a aquecer-se ao sol no seu quintal, não aguentou um dia mais frio e acabou por falecer.
Ela continuou a fazer a sua vida e a viver com o filho solteiro que passados alguns anos faleceu e ela ficou a viver sozinha na sua casa velhinha, mas nessa altura começou a ser ajudada pela família.
O que mais me impressionava era a forma de ela se alimentar, pois a qualquer hora do dia, ela só fazia açorda de pão com ovos e um dente de alho e uma pedra de sal e, assim viveu até aos 104 anos de idade, quando entregou o seu corpo à terra e a alma ao Deus criador.
O seu velho casebre ficou para uma neta que lá mora com a sua família.

Manfer
®
Torres Novas, 25.02.2010

Foto: Net