OS
CONTOS DE MANFER
O
TABELIÃO
Na minha aldeia, o
meu avô paterno, Manuel Ferreira, era um autêntico tabelião popular.
Muitos dos habitantes recorriam aos seus préstimos, quer
fosse para escrever uma carta, um contrato de compra ou venda, ou para fazer a
partilha de uma herança.
Este meu avô pertencia a uma família abastada mas o seu
pai, meu bisavô, viciou-se no jogo da manilha e perdeu o que tinha e não tinha.
Isso levou o meu avô, mais tarde, a proibir aos filhos qualquer
espécie de jogo.
Tudo isto, bem como o relato seguinte, me foi contado por
meu pai, António Ferreira, nas grandes noites da minha infância, em que ele
obrava verga e me falava de muita coisa da sua juventude.
Contou-me, também, que o meu avô era um homem que tinha várias
actividades, que foi muitos anos mestre de lagar de azeite, pequeno agricultor
que vendia semanalmente os seus produtos agrícolas e pecuàrios nos mercados da
região de Torres Novas, Ourém e Tomar. Que ele possuía muitos burros para o seu
trabalho e para alugar às pessoas para se deslocarem aos referidos mercados.
Meu avô era o dono,
também, de uma propriedade chamada Ribeira, ou casal, que tinha uma casa de
habitação e um palheiro para guardar os burros, o que, afinal, é a principal
razão de te contar esta história, pelo facto de o meu avô ser, também, um homem
que amestrava alguns dos seus burros, para fazer o transporte da sua casa na
aldeia para a dita propriedade, e vice-versa, sem que fosse preciso mandar
alguém a conduzi-los.
Seguindo esse exemplo, há muitos anos, tentei amestrar um
burro do meu pai, mas o sujeito era tão teimoso, que só avançava quando eu,
indo por trás, lhe puxava o rabo.
Isto, pode crer, é uma história verdadeira.
Manfer
®
Torres Novas, 1/06/2015
Foto: Manuel Ferreira (Avô)
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